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quarta-feira, 30 de abril de 2008

SENSUS PLENIOR: Uma Análise de Obras Selecionadas em Língua Portuguesa


INTRODUÇÃO
A presente pesquisa intenta compreender o sensus plenior, também designado de sentido mais profundo ou sentido completo, a partir da observância de algumas das principais obras hermenêuticas disponíveis em língua portuguesa. A diversidade das conotações que o termo pode assumir dificulta uma definição técnica e uniforme do mesmo. No entanto, é a partir do que estes autores entendem sobre a temática que é possível chegar, ao menos, a idéia geral do uso do mesmo.
O tema é de fundamental importância no labor hermenêutico. Em função de que ele lida com a complexidade peculiar da interpretação do texto bíblico que possui uma dupla autoria, divina e humana, e como elas se relacionam no trabalho de interpretação. Nesse particular essa problematização pode ser assim formulada: O sentido intentado pelo autor divino foi completamente compreendido pelo autor humano? Quem pode determinar o sentido mais profundo ou completo de uma passagem? A intenção divina contradiz a intenção humana? Há apenas um sentido no texto? A resposta a essas perguntas podem ser decisivas na interpretação bíblica e dessa forma interferir diretamente na prática cristã eclesiástica e particular.
A pesquisa não se propõe a analisar exaustivamente as obras citadas, nem tampouco o pensamento completo dos autores sobre o tema. Mas limita-se apenas aquilo que eles exibem nessas obras com referência específica ao assunto, e tenta provar que mesmo quando alguns não fazem uso declarado do termo eles acabam exprimindo a mesma idéia.
I – ANÁLISE DE OBRAS POR AUTORES
2.1 Louis Berkhof
O contexto em que Louis Berkhof sugere o sensus plenior na sua obra, ainda que brevemente, é quando o mesmo trata da “Concepção Correta da Bíblia, o Objeto da Hermenêutica Sagrada”. Mais especificamente ao abordar a questão da “Unidade do Sentido da Escritura”. Deve ser mencionado que o mesmo não utiliza o termo “sensus plenior”, mas fala de um sentido mais profundo da Escritura (huponoia).
Berkhof inclui essa discussão nessa seção, em função de que enfatiza que a Escritura tem sempre um único sentido, e que admitir um sentido mais profundo não é o mesmo que afirmar um segundo sentido ao texto, senão vejamos: “... o sentido mais profundo da Bíblia não constitui um segundo sentido”. A despeito da ênfase no sentido literal como base sólida, Berkhof entende que o significado real nem sempre está na superfície, sendo assim, ele suspeita se o método gramático-histórico pode exaurir o sentido de uma passagem e assimilar, em sua plenitude, tudo o que o Espírito Santo quis comunicar.
As provas bíblicas apontadas por Berkhof para a aceitação do sentido mais profundo são três: (1) Os tipos vétero-testamentários com cumprimento no Novo Testamento; (2) As profecias a respeito do Cristo; (3) As expressões dos Salmos como uma experiência universal do povo de Deus e, em alguns casos específicos, do Messias.
2.2 Henry A. Virkler
Na introdução da sua obra Hermenêutica, Virkler inclui o sensus plenior entre um dos problemas controversos na hermenêutica contemporânea.
Para ele a problemática do sensus plenior é legitimada pela origem divino-humana das Escrituras, daí surgirem questões da dupla autoria e, por conseguinte, de um sentido pretendido pelo autor divino que excedia o autor humano. Virkler cita um autor que parece concordar com o sensus plenior ao analisar o caso:
Estar cônscio do sensus plenior é reconhecer que existe a possibilidade de uma passagem do Antigo Testamento ter mais de um significado do que era conscientemente evidente ao autor primitivo, e mais do que pode obter pela estrita exegese gramático-histórica. [...] Este sentido mais pleno [...] só pode ser visto em retrospecto e à luz do cumprimento do Novo Testamento.
Em seguida ele passa a listar argumentos favoráveis e contrários ao sensus plenior. Entre aqueles que apóiam estão: (1) O texto de 1Pedro 1.10-12 que sugere explicitamente que os mesmos profetizaram algumas coisas que não entendiam; (2) O mesmo parece apontar Daniel 12.8, a falta de entendimento de todas as visões recebidas; (3) A mesma situação de ausência de entendimento não só com os profetas, mas também com a sua audiência (Daniel 8.27; João 11.49-52). Virkler também sinaliza alguns argumentos opostos ao sensus plenior: (1) Que a aceitação do mesmo pode abrir caminho para interpretações eisegéticas; (2) A interpretação de 1Pedro 1.10-12, cujo entendimento não sugere que os profetas desconheciam o significado, mas simplesmente ignoravam o tempo do cumprimento das alegações proféticas; (3) Usando, como exemplo, a passagem de João 11.50, o argumento afirma que é possível não se conhecer todas as implicações da profecia; (4) Seguindo a mesma linha de raciocínio, este último argumento indica que os profetas entendiam o significado da profecia, mas não sua situação histórica.
Virkler conclui admitindo ser improvável a solução do problema antes da eternidade, ao mesmo tempo em que propõe um critério orientador para ambos os lados, critério esse que parece inclinar-se favoravelmente ao sensus plenior:
... qualquer passagem que pareça ter um significado mais completo do que é provável tenha sido abrangido pelo autor humano só deve ser assim interpretada quando Deus, mediante revelação posterior, tiver declarado expressamente a natureza do significado que ele tinha em mente.
Virkler ainda trata do sensus plenior quando se propõe a analisar os problemas teoréticos e práticos na interpretação da profecia e da literatura apocalíptica. Aqui ele retorna ao argumento extraído da passagem de João 11.50, sendo que desta vez o texto ilustra ambas as posições. Os favoráveis ao sensus plenior diriam que Caifás não entendia o significado da sua profecia, enquanto que os que se opõem a essa idéia diriam que ele, simplesmente, não entendia as implicações totais da profecia, sendo este um fenômeno natural na profecia bíblica.
2.3 Gordon D. Fee e Douglas Stuart
Fee e Stuart tratam do sensus plenior como fenômeno específico da profecia. Diferente de Berkhof, eles o denominam explicitamente como um segundo sentido: “Este segundo sentido é comumente chamado o sensus plenior (o sentido mais pleno)”. Para esses autores, o segundo sentido surge quando uma passagem no Antigo Testamento, que tem um sentido claro, é mencionada por algum autor do Novo Testamento imprimindo-lhe um sentido completamente diferente daquele anterior. Dois exemplos são fornecidos: (1) Tanto em Êxodo 17.1-7, como em Nm.20.1-13, os israelitas experimentaram o milagre da água brotando da rocha, em Refidim e Cades sucessivamente. Nesses dois casos não há nenhum indício que a rocha seja outra coisas senão rocha, no entanto, em 1Coríntios 10.4, Paulo identifica a rocha com Cristo, estabelecendo através da analogia, segundo os autores, um segundo sentido. (2) O segundo exemplo é extraído da profecia de Oséias 11.1. A intenção aqui é clara, Deus estava demonstrando o seu amor por Israel ao tirá-lo do Egito. Todavia, Mateus 2.15, a utiliza dando-lhe um sentido novo, uma profecia acerca de Jesus Cristo quando criança.
As conclusões de Fee e Stuart são as seguintes: (1) Só o Espírito Santo, por meio dos autores inspirados, é que pode determinar o sensus plenior; (2) Somente o Espírito Santo pode quebrar as regras hermenêuticas e estabelecer um novo sentido, nunca os intérpretes, uma vez que entendem que “... é uma função da inspiração, não da iluminação.”
2.4 Roy B. Zuck
Para Zuck é no estudo do emprego do Antigo Testamento no Novo que se justifica inquirir sobre se as Escrituras têm sentidos múltiplos. Essa discussão, no entanto, sucede logicamente outra: “Será que os autores do Novo Testamento compreendiam tudo o que escreviam?”. Para Zuck essa polêmica tem resposta afirmativa que ele procura provar a partir de três assertivas: (1) Usando exemplos de textos já anteriormente citado por outros autores em análise (Dn.12.8,9; Jo.11.50; 1Pe.1.10; Os.11.1), ele acena positivamente ao fato que os autores humanos da Bíblia nem sempre entendiam plenamente tudo o que escreviam; (2) Recorre ao caráter progressivo da revelação, cuja amplitude não era totalmente conhecida, exceto por Deus; (3) A dependência de determinadas profecias ao seu cumprimento, principalmente naquelas que apresentam um cumprimento em etapas, não simultâneo; (4) Passagens que se referiam a Cristo é vista como uma elevação ou expansão coerente, cuja compreensão não estava presente nos autores humanos.
Como pode ser percebido, Zuck sustenta argumentos semelhantes aos que defendem o sensus plenior, todavia sem mencionar o termo. E como decorrência natural das suas afirmações, ele passa por quatro concepções sobre a possibilidade de sentidos múltiplos nas Escrituras. (1) Muito brevemente ele menciona a posição daqueles, incluindo especificamente Walter C. Kaiser, que defendem apenas um significado, o entendido pelos autores; (2) A segunda concepção é daqueles que advogam ser possível muitos sentidos, definidos por critérios subjetivos; (3) A terceira é o sensus plenior. Zuck define o mesmo como: “A idéia é que certas passagens bíblicas podem ter ‘sentido mais completo’ do que o planejado ou compreendido pelo autor, sentido esse, no entanto, pretendido por Deus”. Nesse particular Zuck revela coerência com o que dissera anteriormente, ao concordar com a definição do sensus plenior: “Pelo que já vimos, concordo que Deus possa ter pretendido um sentido mais amplo do que os autores imaginaram estar transmitindo”. No entanto, Zuck rejeita essa terceira concepção, uma vez que já declarou ter sido criada por um escritor católico e, dessa maneira, como interpretação oficial estaria sujeita aos dogmas falíveis da igreja.
Tendo apresentado as três alternativas concernentes a discussão sobre significados múltiplos das Escrituras, a quarta linha de raciocínio é a que ele abertamente defende. Seu entendimento parte do pressuposto de que cada texto bíblico tem apenas um significado, embora tenha implicações que, citando Johnson, denomina de referências plenior.
Essa posição para ele é mais favorável pelos seguintes motivos: (1) Não transgride a interpretação histórico-gramatical que exige um único significado; (2) Está acomodado ao fato de um só sentido referir-se a mais de um elemento; (3) Conforma-se ao caráter progressivo da revelação; (4) Reprime a busca de sentidos ocultos no texto; (5) É a melhor alternativa para interpretar citações dos Salmos no Novo Testamento.
2.5 Walter C. Kaiser, Jr. e Moisés Silva
Na obra Introdução à Hermenêutica Bíblica, Kaiser e Silva citam o termo “sensus plenior” sem oferecer nenhuma definição do mesmo. Kaiser o menciona quando trata do “Uso Teológico da Bíblia”, mais especificamente quando fornece um sumário de princípios básicos para serem postos em práticas nesse uso.
No item seis ele explicita: “Nenhuma doutrina deve ser baseada em uma única passagem das Escrituras, parábola, alegoria, sensus plenior ou numa leitura incerta do texto” (grifo).
Silva, por sua vez, no capítulo em que aborda “Visões Contemporâneas da Interpretação Bíblica”, mais exatamente ao tratar da “Intenção do Autor”, inclui o sensus plenior quando menciona, nesse particular, o uso controverso da Bíblia ao longo dos séculos, chegando a afirmar que “todas essas visões pressupõe que há ‘mais’ no texto bíblico do que os autores humanos tinham consciência”. No entanto, o próprio Silva poucos linhas seguintes afirma que “o sentido da passagem bíblica não precisa ser identificado completamente com a intenção do autor” (ênfase dele). Demonstrando que ele está combatendo a sugestão em que o “significado autoral seja dispensável ou até mesmo secundário”. Que não é o caso de muitos que defendem o sensus plenior, como já foi demonstrado.
Como a discussão do sensus plenior lida, conseqüentemente, com a discussão a respeito do significado, único ou múltiplo, das Escrituras. Importa observar o que a obra desses autores diz a respeito. Kaiser em dois lugares aborda essa discussão. Primeiro quando levanta a questão sobre o “Sentido do Significado”, ao mencionar o significado como intenção, ele é taxativo ao dizer que “... entender a intenção do autor humano é entender a intenção do autor divino”.
Todavia, Kaiser apressa-se ao acrescentar que isso não significa dizer que “os referentes divinos pretendentes fossem limitados àqueles que o autor via ou significava. Assim ele abre a possibilidade para admitir que, em alguma medida, os próprios autores não tinham consciência de todos os detalhes. Senão, vejamos:
Era necessário somente que o escritor tivesse um entendimento adequado daquilo que era pretendido tanto no futuro próximo quanto no distante, mesmo que não pudesse compreender todos os detalhes que deveriam ser incorporados ao progresso da revelação e da História (ênfase minha).
O segundo lugar em que Kaiser trabalha o sentido intencionado pelo autor é quando trata da profecia bíblica. Ele se opõe frontalmente aqueles que defendem um suposto duplo sentido das profecias. Para Kaiser não existe casos de duplo sentido, mas aceita que “uma profecia pode, de fato, estar relacionada a mais de uma coisa (como por exemplo, algo espiritual e temporal) mas ainda assim, ter um único sentido.” Kaiser chega até a creditar um certo grau de verdade ao duplo sentido quando expõe os múltiplos cumprimentos de uma profecia, mesmo que ainda enfatize que o sentido permanece o mesmo.
Nessas concessões, pode-se ver que existe um certo grau de verdade nas afirmações acerca do duplo sentido. Muitas profecias têm um desdobramento de aplicações ou cumprimentos como forma de assegurar que a palavra seja mantida viva enquanto aguarda pelo cumprimento final, mas todos esses desdobramentos compartilham de um mesmo sentido.
Por mais que Kaiser acentue o fato de que os profetas tinham compreensão de suas próprias profecias, essa compreensão não era completa, ou seja, eles não sabiam de todas as implicações de seus escritos.
2.6 Paulo Anglada
Anglada situa o tema em questão ao expor os pressupostos pneumatológicos da Hermenêutica Bíblica. Para ele o problema pode ser assim formulado: “Existe um sentido mais pleno ou profundo do que aquele tencionado pelo autor humanos nas Escrituras, ou deve-se limitar a intenção do Espírito à intenção dos autores humanos?” Anglada faz questão de esclarecer que ao usar o termo sensus plenior não estar abrindo espaço para o subjetivismo ou alegoria, nem tampouco que o mesmo sugere contradição ao sentido pretendido pelo autor humano. Citando Oss, ele exibe qual a sua concepção do sensus plenior:
... ao reconhecimento do cânon das Escrituras como uma obra literária única. Porque ela é um único livro, nenhuma parte do livro pode ser compreendida com propriedade à parte do todo. Portanto, reflexão sobre as Escrituras como um todo é um processo vital e central no processo hermenêutico. E a compreensão que uma pessoa tem de uma passagem será mais profunda e clara se a passagem for vista à luz do todo. Isto pode incluir níveis de significados que não foram conscientemente tencionados pelo autor humano, mas que estão incluídos no sentido expresso do texto e que são parte do contexto canônico.
Ao alistar algumas razões que justifica harmonizar a concepção de sensus plenior ao caráter divino-humano das Escrituras, Anglada amplia o entendimento do seu significado:
1) Faz justiça à unidade orgânica das Escrituras [...] 2) Faz justiça ao caráter progressivo da revelação bíblica [...] 3) O Caráter Cristocêntrico das Escrituras [...] 5) Faz justiça às limitações humanas e à não limitação divina. [...] não é de se esperar que os autores humanos tivessem plena compreensão de todas as implicações do que escreveram, enquanto o Espírito, sim.
Paulo Anglada conclui apresentando ainda as profecias cristológicas e escatológicas como argumentos a favor do sensus plenior. Conquanto tivessem consciência do contexto histórico imediato de suas profecias, os profetas não estavam plenamente cônscios das suas implicações mais profundas, como apresentadas no Novo Testamento.
2.7 Kevin Vanhoozer
Vanhoozer se propõe a analisar as principais correntes contemporâneas da interpretação. Reafirmando que o significado não é relativo e que o mesmo não é um constructo volúvel entre o texto e o leitor. Mas como ele próprio explicita “o significado independe de nossas tentativas de interpretá-lo”. E ainda:
... tornei-me cada vez mais convencido de que as questões controversas que se encontram no cerne dos atuais debates sobre interpretação bíblica, sobre interpretação em geral e sobre a interpretação pós-moderna em especial eram realmente questões teológicas.
A discussão sobre sensus plenior, também chamado de “significado mais completo”, se insere quando Vanhoozer trata da ressurreição do autor no âmbito particular da intenção autoral como ação comunicativa/significado.
Para ele a interpretação bíblica lida com uma questão em particular: as intenções inspiradas, que implica na relação entre a intenção do autor divino e a intenção do autor humano. Para ele a resposta sobre essa relação e a maneira como ela pode ser elaborada é somente a partir da compreensão do cânon como um ato comunicativo divino: “Minha tese é a de que o ‘significado mais completo’ das Escrituras – o significado associado a autoria divina – emerge apenas no nível do cânone inteiro.”
Vanhoozer admite que essa intenção divina, conhecida e estruturada no cânon como ato comunicativo, unificado e completo, “não contesta a intenção do autor humano, mas sobrevém a ela”.
Ele não apenas não admite contradições entre o autor humano e divino, mas vai além e sugere que esse “sentido mais completo é, na verdade, o sentido literal, tomado no nível de sua descrição mais densa.”
Dessa maneira, Vanhoozer pode definir o sensus plenior no “nível da reunião feita por Deus dos diversos propósitos e atos comunicativos parciais e progressivos dos autores humanos em um Grande Projeto Canônico.

CONCLUSÃO
Todos os autores das obras em análise partilham da convicção que a interpretação bíblica não pode estar sujeita a critérios subjetivos, e que nenhum recurso hermenêutico sério legitimará uma abordagem das Escrituras que não considere seu caráter divino e humano. Nesse sentido todos comungam da concepção de que o método gramático-histórico fornece os princípios que melhor aproximam o intérprete da intenção do autor humano. Ao mesmo tempo em que os pressupostos teológicos, extraídos da própria Escritura, funcionam como guias norteadores na busca do conhecimento da verdade de Deus revelada no Antigo e Novo Testamento.
Nenhum dos autores apresenta uma definição uniforme de sensus plenior. O que torna mais difícil a tarefa de reunir todo o pensamento analisado. Mesmo assim alguns pontos principais devem ser salientados nessa conclusão.
Sensus Plenior é um sentido mais completo, não um novo sentido
Espero ter demonstrado que os autores que utilizam o termo sensus plenior têm compromisso com a interpretação histórico gramatical e não admitem o uso do termo para estabelecer interpretações espúrias e destituídas de fundamentação exegética. Por essa razão todos eles enfatizam que há um único sentido no texto, como afirma Berkhof explicitamente. No entanto, esse sentido tem desdobramentos, referências e implicações que o autor humano não tinha plena consciência, um sensus plenior. A única exceção é Gordon Fee e Douglas Stuart que utilizam abertamente a expressão “segundo sentido”, no entanto, mesmo estes deixam claro que somente o Espírito é que pode determinar um novo sentido.
Sensus Plenior só pode ser determinado no nível progressivo, orgânico e canônico das Escrituras
A preocupação de Roy Zuck é legitima quando rejeita o uso da expressão sensus plenior por estar associada à interpretação católica romana e sua dependência aos dogmas falíveis da igreja. Todavia essa concepção não é inerente ao termo, como ele imagina. A recomendação de Virkler é oportuna quando condiciona o sensus plenior a progressividade da revelação. Essa mesma preocupação é demonstrada por Anglada ao introduzir na discussão do sensus plenior a unidade orgânica das Escrituras, e Vanhoozer ao relacionar o sentido mais completo ao cânon como ato comunicativo divino.
A idéia de Sensus Plenior pode está presente apesar da ausência do termo
Este é o caso específico de Zuck ao se afastar do termo por conta do seu uso corrente no meio católico, mas ao mesmo tempo e, coerentemente, concorda com a definição do mesmo.
Mesmo aceitando outras expressões como, por exemplo, referências plenior, a idéia permanece a mesma: apenas um significado com implicações não totalmente compreendidas pelo autor humano.
O mesmo fenômeno se observa em Walter Kaiser e Moisés Silva. No caso de Silva ele explicitamente defende que “o sentido da passagem bíblica não precisa ser identificado completamente com a intenção do autor”
É notável Silva usar a palavra “completamente”, o que lembra a idéia de sensus plenior, como exposto, de um sentido mais “completo”. Kaiser, por sua vez, apesar de afirmar que “entender a intenção do autor humano é entender a intenção do autor divino”. Ele mesmo admite que os referentes divinos não estavam limitados ao autor humano. O que está além da limitação humana é designado por muitos como sensus plenior.

Berkhof, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. (São Paulo: Cultura Cristã, 2000), 38.
Virkler, Henry A. Hermenêutica. (São Paulo: Vida, 1987), 17.
Citado em Virkler, 17. Donald A. Hagner, “The Old Testament in the New Testament”.
Fee, Gordon D., Stuart, Douglas. Entendes o que lês? (São Paulo: Vida Nova, 1998), 171.
Zuck, Roy B. A Interpretação Bíblica. (São Paulo: Vida Nova, 1999), 315.
Citado em Zuck, 317. Johnson, Elliott E. “Expository hermeneutics: an introduction.”
Kaiser, Walter C. Silva, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. (São Paulo: Cultura Cristã, 2002).
Anglada, Paulo. Material Didático da Disciplina: Hermenêutica. Fitref. (Não publicado)
Citado em Anglada. Oss, “Cânon as Context”.
Vanhoozer, Kevin. Há um significado neste texto? (São Paulo: Vida Acadêmica, 2005), 15.
Ibid, 372.
Berkhof, Princípios de Interpretação Bíblica, 57.
Fee. Stuart, Entender o que lês?, 171.
Zuck, A Interpretação Bíblica, 317.
Virkler, Hermenêutica, 18.
Anglada, Aulas não publicada.
Vanhoozer, Há um significado neste texto?, 37.
Zuck, A Interpretação Bíblica, 13.
Kaiser, Silva, Introdução à Hermenêutica Bíblica, 238.

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